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Filme alemão conta história de homem que disputou Olimpíada como mulher

A amizade entre uma atleta judia, afastada da equipe alemã que participou da Olimpíada de 1936 em Berlim, e o alemão que a substituiu, passando-se por mulher, é o enredo do filme Berlin 36.

O filme é baseado na história real de Gretel Bergmann, uma das melhores saltadoras em altura da Alemanha, que por pressão dos Estados Unidos foi aceita na equipe olímpica alemã, mas acabou afastada logo depois que a equipe americana embarcou no navio que cruzaria o Atlântico.

No filme, a atleta convocada pelo governo nazista para substituir a judia, Maria Ketteler, é na realidade um homem. Apesar da rivalidade, os dois acabam ficando amigos. Mas, por trás dessa simpática história fictícia de amizade entre o alemão e a judia Bergmann, que destaca o drama real vivido por judeus alemães, se esconde uma verdadeira tragédia pessoal.

Certidão de nascimento

De acordo com o historiador Berno Bahro, da Universidade de Potsdam, na Alemanha, a atleta substituta, cujo nome real era Dora Ratjen, não teria sido “inventada” pelos nazistas, desesperados por uma substituta para Bergmann.

O coautor do livro que acompanha o filme afirma que, embora fosse do sexo masculino, a certidão de nascimento legítima da atleta trazia o nome Dora Ratjen e ela teria sido criada como menina.

Ratjen morreu no ano passado sem nunca ter dado entrevista sobre o assunto, e ninguém sabe ao certo porque a família teria escondido o verdadeiro sexo dele.

O segredo de Ratjen a levou a se distanciar de colegas desde cedo, e o esporte se transformou no seu refúgio.

Em 1936, ele realmente tinha a melhor marca entre as saltadoras em altura da Alemanha (seguida por Bergmann).

“Ou seja: em termos de esporte, Ratjen não veio do nada. Além disso, não há qualquer indício de que os Nazistas soubessem algo acerca da verdadeira identidade sexual dele, muito menos que tenham a usado como instrumento contra Bergmann”, afirma Bahro.

Fim da farsa

Nada mais normal, então, que participasse da Olimpíada de 1936 – que Adolf Hitler pretendia usar como plataforma para comprovar as suas teorias de superioridade ariana.
Para a decepção do Führer, ela acabou ficando em quarto lugar. No entanto, nos anos seguintes,
apareceria com frequencia entre as melhores saltadoras do mundo.

A farsa acabou em 1938. Ratjen tinha acabado de estabelecer o novo recorde mundial feminino para salto em altura e voltava de trem para casa. Evidentemente, vestia saia e roupas femininas. Um detalhe, entretanto, chamou a atenção dos outros passageiros do vagão: a barba por fazer.

O historiador Bahro acredita, embora admita não poder comprovar a hipótese, que o jovem estava provavelmente farto e queria acabar com a mentira. E de fato, tudo acabou em um escândalo.

No ano seguinte, aos 21 anos de idade, Dora Ratjen finalmente escolheria um nome masculino, Heinrich, e pelo resto de sua vida seria conhecido pelo apelido Heinz.

No ano passado, no dia 22 de abril, Heinz Ratjen morreu no anonimato, levando com ele o mistério de uma das maiores fraudes da história dos esportes.

FONTE: BBC Brasil – Notícias – Filme alemão conta história de homem que disputou Olimpíada como mulher

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